O Governo Federal anunciou, na última quinta-feira (25), medidas para ampliar o acesso da população a carros populares por meio da redução de impostos para veículos que custam até R$ 120 mil. Com o corte tributário máximo anunciado, de 10,79% os modelos mais baratos poderiam ficar em torno de R$ 61,5 mil. Para quem compra o carro à vista, o que definitivamente é para poucos no Brasil atual, o desconto pode ser interessante. Mas para quem pensa em comprá-lo a prazo, a dívida adquirida é grande. A reportagem de O Tempo fez simulações de financiamento em quatro bancos e com a taxa básica de juros atual, de 13,75%, o brasileiro vai pagar “dois carros ao final”.
Em 2021, a taxa média de juros de automóveis pelos bancos e financeiras era de 1,72% ao mês. Atualmente, ela está em 2,25%, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG).
De acordo com uma simulação feita pelo Ipead/UFMG, a diferença final de pagamento de um financiamento de 2021 e de 2023, para um carro de R$ 61 mil, em 60 parcelas, é quase de R$ 13,5 mil. Segundo Diogo Santos, economista do instituto, a trajetória de crescimento da taxa de financiamento de automóveis acompanha parcialmente a trajetória da taxa Selic acumulada no mês ao longo dos anos.
Veja a simulação de financiamento de automóveis em diferentes bancos:
Bradesco
- Financiamento de R$ 63.053,78 mil
- Prazo: 60 meses
- Parcela mensal: 2.031,72
- Taxa de juros ao mês: 2,34%
- Ano de fabricação: 2018
- Valor total pago: R$ 121.903,20
Itaú
- Entrada: cerca de R$ 18 mil
- Financiamento: R$ 45.276,22
- Prazo: 60 meses
- Parcela mensal: R$ 1.400,44
- Taxa de juros ao mês: 2,19%
- Valor total pago: R$ 102.026,40 (somada à entrada)
Santander
- Financiamento: R$ 60 mil
- Prazo: 60 meses
- Parcela mensal: R$ 2.126,25
- Taxa de juros ao mês: 2,69%
- Valor total pago: R$ 127.575
Banco BV
- Financiamento: R$ 61 mil
- Prazo: 60 meses
- Parcela mensal: R$ 2.517,83
- Valor total pago ao final: R$ 150.889,80
Simulação feita pela reportagem de O Tempo na terça-feira (30/05) para um veículo de 2018. Cada instituição financeira tem taxas de administração próprias e outros encargos.
Juros fazem com que a dívida dobre de tamanho
“O desconto do imposto [anunciado pelo governo] vai ser anulado pelo preço que a pessoa vai pagar em juros a prazo”, observa Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Ele explica que os juros atuais praticados no país fazem com que a dívida dobre de tamanho para o consumidor. “Na modalidade de crédito para o financiamento do veículo, existe o bem como garantia, e os bancos trabalham com juros menores. Mesmo assim estão elevados”, observa.
Segundo Oliveira, há uma expectativa no mercado de que o governo pressione o Banco do Brasil e a Caixa, instituições públicas, a oferecerem uma linha de crédito especial para estes veículos populares, com taxa de juros reduzida. Atualmente, a taxa pré-fixada pelo Banco Central é de 1,97% ao mês no caso do Banco do Brasil e 2,07% na Caixa. O Santander, empresa privada, tem juros similares aos do BB, chegando a 1,98%. Os dados do BC são referentes ao período de 10/05 a 16/05/2023 e podem ser consultados no site.
O diretor da Anefac acredita que, na medida que dois importantes operadores financeiros reduzam suas taxas, outros bancos se veriam obrigados a abaixar os juros para continuarem competitivos. “Há também uma natural expectativa de que o Banco Central possa reduzir a taxa básica de juros, possibilitando que os veículos realmente fiquem mais baratos e acessíveis”, acrescenta.
Para Oliveira, o governo não promoveu subsídios para baixar também as taxas de juros para não criar um entrave político com outros segmentos. “O Pronampe [Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte], por exemplo, valia para toda a economia. A área têxtil, metalúrgica…”.
O diretor aconselha os consumidores a esperarem pelas novas regras para firmarem os contratos à prazo. “Quando você faz o financiamento, você tem que pagar da primeira à última parcela o valor que foi contratado”, explica.
As medidas anunciadas pelo Governo Federal ainda estão em estudo e o Ministério da Fazenda deve apresentar um texto final dentro de 15 dias para dar andamento em uma medida provisória.
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Fonte – OTempo
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